segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

BALANÇO DA VIAGEM

Brasília, 17 de janeiro de 2015 (escrito depois da viagem)

PLANILHA DE PERNOITES

PLANILHA DE ABASTECIMENTO


1) A AVENTURA - Fizemos a Carretera Austral chilena completa, de Puerto Montt a Villa O'Higgins. De moto, foram 1654 km no total (considerando todos os deslocamentos periféricos), dos quais 1017 km no rípio. Eduardo Arrivabene pilotou 280 km a mais, porque conduziu a motocicleta que não quebrou entre Puerto Guadal a Coyhaique no momento em que a caminhonete do resgate levava outras duas motos. Considerando o trecho de 514 km dentro da caminhonete, a aventura somou exatos 2168 km.
2) O CENÁRIO - O Chile é um país espremido entre duas cordilheiras: a dos Andes e a do Mar. Todo o trajeto da Carretera Austral fica entre elas (ou nelas) o tempo todo. Difícil saber quando se está em uma ou em outra. Choveu muito durante o percurso, o que era esperado em razão da altíssima umidade da região. Cachoeiras (estou falando de centenas) descem as montanhas por toda a rota. Lagos, fiordes, glaciares, florestas e bosques encantados, montanhas nevadas e rios velozes foram o cenário típico desta viagem. Cada qual com sua peculiaridade, com detalhes coloridos que impressionam e tocam a alma. Tentei, limitado pela minha incompetência com a câmera, construir material fotográfico digno desta experiência. É uma pena constatar que poucos chilenos têm conhecimento das belezas da Carretera. Tudo leva a crer que ela é mais famosa na Europa e no Brasil do que no próprio Chile.
3) CICLISTAS NA CARRETERA AUSTRAL - O que mais vimos foram ciclistas pedalando pelos 1.247 km da Ruta 7, na maioria europeus, particularmente  franceses, suíços, holandeses e alemães. É notório o encanto que tal desafio tem despertado nesta galera. Também encontramos 3 ciclistas chilenos e 1 brasileiro pelo caminho, ou dentro das 5 embarcações "obrigatórias". Impressiona o número de pessoas que viaja sozinho, fazendo amizades pelo caminho ou nos albergues existentes nas pequenas vilas.
4) OUTROS "TURISTAS" - Os turistas de aventura são frequentes, geralmente em veículos 4x4 ou pedindo carona. Brasileiros, americanos, canadenses e alemães são muito comuns nos pontos mais famosos da Carretera. Motociclistas são mais raros, mas encontramos com cerca de uma dezena deles (nenhum fazendo a rota completa, como nós).
5) DESAFIOS DE PILOTAGEM - Eu acho que a Carretera deve ser evitada por motociclistas novatos, particularmente os que não possuem traquejo no off road. Não sou um expert neste estilo, mas tenho alguma experiência adquirida em outras viagens. Já havia enfrentado um desafio maior pelas areias fesh-fesh da Bolívia. Há muito risco também para quem viaja em 4 rodas nos trechos não pavimentados. A velocidade no rípio tem que ser lenta, porque a facilidade com que o veículo derrapa e o risco de sair da pista são impressionantes.
6) PARCEIROS - Eu pensei que iria ser difícil encontrar novos bons parceiros que me aturassem. Meu estilo de viagem é atípico, porque paro muito para fotografar e fazer filmagens. Gosto de guardar arquivos dessas experiências. Mas, surpreendentemente, acabei encontrando 3 bons parceiros que não se incomodaram comigo. Souberam esperar ou aprenderam a curtir esses momentos da mesma forma que eu. Curiosamente, nenhum dos 3 era chegado a bebidas alcoólicas. Enrique até encarava uma única cerveja preta no final do dia. Arrivabene tomou algumas pequenas doses de destilado para combater o frio. Pascal, nada!
6a) EDUARDO ARRIVABENE foi um parceiro excepcional. Eu não imaginava existir alguém mais organizado do que eu, mas, comparado com o Arrivabene, não passo de um amador. Uma pessoa pronta para qualquer desafio, sempre muito sereno e disposto a ajudar. Não falei antes, mas quando levei a queda, o guidão da minha moto ficou retorcido, impossível de pilotar. Arrivabene desmontou em minutos toda a dianteira da motocicleta, retirou a mesa, as bengalas e num único pontapé ele endireitou o guidão. Nós (eu, o chileno e o belga), não acreditamos no que estávamos vendo. O cara é o próprio McGuiver. Sua paciência e sobriedade para lidar com os problemas da sua moto foram exemplares. Mesmo sob sensação térmica de 2 graus negativos, ele não perdeu o equilíbrio. O chileno Enrique passou por 4 probleminhas enquanto esteve conosco, e foi o Arrivabene que o socorreu. Ele ainda teve a gentileza de fazer café praticamente em todos os dias da aventura, numa micro cafeteira italiana que levou em sua bagagem.
6b) ENRIQUE - Este chileno nos acompanhou por 6 dias na sua Tiger 1200. Um jovem de trinta e poucos anos, culto e bem humorado, conversador e divertido. Demonstrou muito conhecimento das culturas pré-colombianas e da botânica e clima chilenos. Quando nos separamos, em Puerto Yungay, deixou aquela sensação de tristeza, que acompanha o momento de despedida de algum parente ou amigo querido.
6c) PASCAL - Este motociclista belga viajou conosco por 5 dias numa Honda Africa Twin, que já não é fabricada há 2 décadas. Muito sóbrio e calmo em todos os momentos. Falava em inglês claríssimo, sem palavras estranhas, e isso facilitou nossa comunicação. Partiu junto com Enrique de Puerto Yungay. Pascal estava se dirigindo à Ushuaia, como a grande maioria dos viajantes que encontramos. 

Espero que o relato a seguir possa servir de orientação para outros aventureiros que desejem conhecer a Carretera Austral. Não gosto de comparativos, mas ainda não vi, nos 15 países onde estive, uma quantidade tão grande de paisagens belíssimas em espaço tão curto. As palavras não conseguirão descrever o que vimos e sentimos durante o caminho, mas a fotos podem dar uma pequena ideia disso. Forte abraço a todos.

(O diário textualizado e fotografado vai a seguir, em ordem cronológica)

12 comentários:

  1. Caro Flávio Faria, acompanhei sua aventura pelo blog, parabéns pela coragem e desprendimento.
    Ary Fábio

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  2. Parabens pela aventura. Fotos lindas e texto bem escrito, fazendo com que eu me sentisse pilotando com vocês. Aguardo ansioso o blog da próxima aventura.

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  3. Parabéns a vc e ao Arrivabene..Flávio, acho que já está na hora de converter essas aventuras num livro, de preferência bilíngue. Seria um excelente legado para os viajantes do amanhã.

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    1. Dino, este livro está em andamento, mas será concluído quando eu voltar do Alasca, em 2016. Quero falar das Américas, sob óticas antropológica e estradeira.

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  4. Parabéns pela aventura e obrigado por mais esse material de alta qualidade para os apaixonados pela estrada como eu. Abraços.

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  5. Parabéns! Vou aguardar o livro sobre as Américas!

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  6. parabens amigos, fiz o trajeto da carretera austral desde villa santa lucia ate chile chico atravessando o lago general carrera, entrei pela argentina no paso futalefu, e sai pelo paso chile chico/los antiquos rumo a ushuaia, em final de marco 2015, na segunda quinzena de marco em diante chove pouco e tambem menos ventos, em 20 dias de viagem peguei meio dia de chuva e 3 de ventos mais fortes, final deste ano quero fazer toda a carretera austral, gracias pelas dicas abs Gilnei-Arambare-RS

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  7. Este comentário foi removido pelo autor.

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  8. Temos ótimas opções de motocicleta para esses tipos de viagens

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  9. Que maravilhosa o relato e as imagens da viagem ... Já deu vontade de ir .. Consigo que me passe alguns dados?

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    1. Claro, Igor... acho q agora está mais tranquilo trafegar por lá. Os km de rípio foram reduzidos significativamente.

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  10. Boa tarde Flávio, meu nome é Britto estou em Puerto Montt, e amanhã começo fazer a Carreteira Austral solo, espero encontrar alguns amigos abençoados assim como você encontrou, vou devagar e no seu ritmo tirando fotos fazendo filmes , tenho como objetivo Chile Chico, Perito Moreno, USHUAIA , Puerto Madrin, Buenos Aires , Uruguai e depois Brasil que Deus abençoe sempre o nosso caminho, abraço obrigado pelo seu depoimento.

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